24 setembro 2005

CURTA PETROBRÁS ÀS SEIS - ANO 1


Tomei conhecimento do Projeto Curta Petrobrás às Seis oficialmente através do coquetel de lançamento do próprio projeto em evento promocional no CineArte Palace, localizado na cidade de Juiz de Fora/MG, uma das salas do circuito exibidor do projeto no país.
Sem sombra de dúvida, a criação do Curta Petrobrás às Seis foi uma das propostas concretas mais geniais já desenvolvidas em nosso país. Digo isso sem demagogia, pois a iniciativa estratégica, a de fomentar a exibição de curtas em seções específicas, fez-se, em tão pouco tempo, inúmeros benefícios: alcançou-se um público do mais variado e, pelo menos em nossa cidade, sempre crescente, para ver especialmente as produções dos programas; ampliou o mercado exibidor de nossos curtas; a Petrobrás, como empresa de excelência, agregou um valor a mais ao curta-metragem enquanto formato de produção cultural, fomentou o alicerce principal da indústria cinematográfica nacional e valorizou o que é mais importante em nossa identidade cultural brasileira: a diversidade regional, uma vez que, a cada ciclo, a prioridade regional da produção foi, a meu ver, o seu princípio norteador.
Em Juiz de Fora, única cidade que produz cinema regularmente fora das capitais, a partir da década de noventa, o esforço e a iniciativa da Petrobrás em desenvolver uma política de marketing dirigida à formação de novas platéias, na minha opinião, foi muito importante e se caracterizou no principal diferencial do projeto.
Não sei se deveria, mas acho que o momento é relevante. Vou contar uma história, que é verídica, que me surpreendeu e que, pessoalmente, me emocionou profundamente enquanto cineasta. Um amigo meu, jornalista e editor em uma emissora de TV na cidade me pára na rua outro dia, entusiasmado, e me pergunta se eu havia visto o noticiário do dia anterior e respondi que não. Perguntei-lhe porque e ele me contou a seguinte história: para quem não conhece Juiz de Fora, que é uma cidade de porte médio, localizada na Zona da Mata Mineira, cercada por uma região agropecuária, em um de seus distritos próximos, chamado Dias Tavares, existe uma escola rural muito precária onde por iniciativa da única professora, uma turma da sétima série iria ter uma aula de português diferente, resolveu levá-los de ônibus comum até o centro da cidade de Juiz de Fora (viagem que dura cerca de 1 hora) para um lugar que a turma nunca tinham ido: ao cinema. E, como o dinheiro sempre é curto e, neste dia, contado para a passagem de ida e de volta, a única seção de cinema que a turma poderia ir era a do Curta Petrobrás às Seis. Por esta ocasião, coincidentemente, o programa em exibição era todo ele formado com filmes de realizadores da cidade, entre eles um filme meu. Até aquele momento, não estava entendendo aonde meu amigo jornalista queria chegar com a história e completou: os alunos ficaram deslumbrados pela telona e, principalmente, por terem tido a oportunidade de ver a própria cidade projetada na tela; o entusiasmo da turma foi tal que, ao voltarem à zona rural as idéias fervilhavam nas cabeças a ponto da professora concordar com os pedidos feitos pelos próprios alunos em realizar um trabalho extracurricular, em vídeo, sobre um história que eles mesmos idealizaram e que acabou sendo o foco da reportagem na TV.

Só esse relato já é um exemplo extraordinário do poder de motivação que o cinema proporciona em seus espectadores e, particularmente, o que o programa com filmes juizforanos provocaram naqueles alunos de modo que não se pode sequer medir. Mas meu amigo não se conteve e completou: os alunos resolveram realizar o vídeo porque adoraram o seu filme, a forma pelo qual a sua história mexeu com eles. Isso foi dito não pelo meu amigo, mas pela própria professora dessa humilde escolinha na zona rural da cidade que sequer conheço em entrevista à tal emissora.

Acredito que esta história resume tudo que um cineasta pode almejar: que suas histórias possam, primeiro, ser vistas pelo maior número de pessoas; segundo, que suas histórias consigam mexer de alguma forma com seu público. Em outras palavras, cinema é emoção, paixão. Isso a Petrobrás conseguiu proporcionar tanto a mim realizador quanto ao público espectador. Isso não tem preço.

Desta forma, percebi no decorrer dos programas o Curta Petrobrás às Seis que o projeto se tornou referência cultural em nossa comunidade por ter qualidade e ser gratuito, portanto não segrega ninguém.
Agora, quanto à divulgação do projeto, acredito ser benéfico uma maior atuação na mídia eletrônica (Rádio, TV locais e Internet) e sobretudo impressa (jornais e revistas locais). Como fundamental, acrescentaria também um folder com informações mais completas sobre cada programa para os espectadores, além de preservar o atual cartão postal como elemento de divulgação e registro do projeto para o público em geral. Seria interessante pensar em brindes (camisa, bonés e chaveiros) para serem distribuídos entre o público em cada seção e entre formadores de opinião.
O fator fundamental no que diz respeito ao suporte aos realizadores e aos usuários seria a criação de um site específico do Projeto Curta Petrobrás às Seis com informações completas sobre todos os ciclos já exibidos e em exibição, bem como estabelecer um banco de dados sobre o público espectador (espécie de Box Office oficial dos curtas no projeto) dos curtas em cartaz etc., além dos filmes poderem ser veiculados através da própria internet após serem exibidos no circuito exibidor de salas de cinema.
Para finalizar, gostaria de salientar a importância que o Projeto Curta Petrobrás às Seis tem para nós realizadores, como uma alternativa de retorno financeiro de nosso trabalho, que carece de visibilidade e mercado e que, aos poucos, pode se estruturar como importante atividade econômico-cultural de nosso país. Ainda há muito o que melhorar, só depende de nós!
Parabéns, Petrobrás!
Vida longa ao Projeto Curta Petrobrás às Seis!

Franco Groia
Cineasta
(Carta escrita à Assessoria do projeto por ocasião do fechamento do primeiro ano do Projeto "Curta às Seis" da Petrobrás em 2001)

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