04 junho 2006

Na real

Documentário

Os avanços tecnológicos trouxeram inúmeras vantagens aos artistas, principalmente no cinema. Se muitos ainda preferem a película (mais cara e mais trabalhosa), muitos outros dedicam-se a descobrir as maravilhas que o formato digital, mesmo com menor qualidade de imagem, proporciona em praticidade, logística e, principalmente, despesas. Em meio a esta configuração, o documentário emerge como a atual mania do audiovisual. Seja pela influência de casos bem-sucedidos, como os de Michael Moore (que ganhou Cannes e o Oscar), Eduardo Coutinho, João Moreira Salles, Wim Wenders, José Padilha e, recentemente, MV Bill, seja pela overdose de produções blockbuster, é perceptível que o interesse dos jovens cineastas têm se voltado para a possibilidade de capturar a realidade, in loco, com uma estética menos maquiada.

Mas, se diretores de ficção já encontram dificuldades na produção e, principalmente, na distribuição e divulgação de seus trabalhos, os documentaristas ainda lutam para conquistar seu lugar ao sol. Porém, pouco a pouco, os editais públicos passam a focar o formato, e festivais aparecem no país (ver quadro). “Infelizmente, os editais ainda são o único caminho, apesar de ter aumentado o interesse por parte dos canais de TV fechada”, ressalta o juizforano Marcos Pimentel, que já rodou 19 documentários. “O processo de formação do público também é lento, mas, graças a pessoas como Coutinho e Salles, o público vai se acostumando. Eles têm distribuição pela VideoFilmes e pela Conspiração, mas, por enquanto, a maioria de nós fica de fora do circuito comercial, restrita a festivais.”
Em Juiz de Fora, a recém-aberta Groia Filmes, produtora do cineasta Franco Groia, vem tentando criar espaço para produções de cunho não-comercial. “No início é sempre complicado, mas a cidade tem muita produção audiovisual e muita gente interessada em documentário. Percebemos isso com o oficina que organizamos com o Marcos Pimentel, que teve muita procura”, conta a produtora Flávia Lima.

Ainda que existam muitas produções puxadas para o lado político-social do Brasil, vide “Falcões - meninos do tráfico”, de MV Bill e Celso Athayde, existem aqueles atentos ao dia-a-dia e aos detalhes que nos escapam. Seja como for, o estilo documental proporciona uma liberdade no olhar que garante ao telespectador o contato com uma obra inevitavelmente pessoal. No entanto, poucos são os que conseguem viver somente de sua produção autoral, e a maioria precisa trabalhar em projetos paralelos.O diretor de fotografia juizforano, Cleisson Vidal, que apresentou o documentário “Missionários” na última edição do Festival Primeiro Plano, trabalha como freelancer no Rio e em São Paulo. “Documentário no Brasil é para poucos. O próprio Coutinho ficou 15 anos sem filmar. O problema da distribuição é estrutural e ninguém pretende mexer na engrenagem da indústria cinematográfica. É uma dinâmica perversa que não sei ao certo como reverter, mas a TV, a Internet banda-larga e as salas de cinema com projeção digital podem ser uma saída”, avalia o documentarista.

Flerte com o jornalismo
“De quatro anos para cá, houve um aumento na produção, na visibilidade e também na bibliografia sobre documentário. Há dez anos, você encontrava pouquíssimos livros sobre o assunto, mas, desde então, o crescimento tem sido constante”, avalia o professor da Faculdade de Comunicação da UFJF (Facom), mestre em Multimeios pela Unicamp, Cristiano Rodrigues. De fato, o maior festival do estilo no país, o É Tudo Verdade, incluiu, há alguns anos, um fórum de discussão em sua programação. Neste caso, além de apresentação e competição de documentários, diversas pessoas da área são convidadas a discutir diferentes aspectos do mercado e da criação. “As faculdades de jornalismo estavam precisando desta ponte com o cinema, e o documentário acrescenta muito ao jornalista. Vejo que os alunos estão interessados por temas mais humanizados e olhares mais sinceros”, completa Cristiano.

Um grupo de alunos da Facom se identificou com esta proposta e, sob orientação do professor, realizou o documentário “Conquista”, como trabalho de conclusão de curso. Durante um mês, eles acompanharam a rotina de um assentamento do MST, no Sul do país. “Vejo que fomos muito influenciados pelo Coutinho, baseando o filme muito em cima da fala. Hoje, percebo que posso ser mais subjetiva e dar atenção ao entorno”, diz Flávia Vilela, produtora do documentário, que participou da oficina de Pimentel. “Sempre gostei de cinema, mas nunca tive idéias para roteiros de ficção. Prefiro observar. Acho que é uma forma de jornalismo mais sincero, em que não precisamos ser imparciais e temos ponto de vista e olhar explícitos.”

Como tudo que se banaliza, ainda existe desproporção entre a produção documental e a qualidade do material. Vidal defende que, apesar das dificuldades com divulgação e do crescimento abrupto do número de produções, a competência do trabalho ainda é o melhor atrativo para o espectador. Para Pimentel, a principal conseqüência deste “boom” é a falta de preparo dos realizadores. “Você não tem que ensaiar, preparar cenário, maquiar: é só montar a câmera e filmar. E, justamente porque não costuma existir roteiro em um primeiro momento, é preciso estar com um conceito muito claro e não deixar para descobrir qual é sua história ao final das filmagens. O filme é você quem faz, não o acaso.”

Fique por dentro
Financiamento
- Documenta Brasil (SBT): R$ 550 mil. Inscrições abertas até 26 de junho
- DocTV III: R$ 100 mil. Inscrições encerradas
- DocTV Ibero-América: US$ 100 mil. Inscrições encerradas dia 31
- Rumos Itaú Cultural: R$ 100 mil. Inscrições encerradas
Festivais
- É tudo verdade
- Festival do Filme Documentário e do Filme Etnográfico (ForumDoc BH)
- Mostra Internacional do Filme Etnográfico


(Jornal Tribuna de Minas - Juiz de Fora, quarta-feira, 04 de junho de 2006)

Justiça determina que Caixa indenize correntista

Um correntista bancário de Juiz de Fora conquistou mais uma vez na Justiça uma indenização por danos morais, em virtude da falta de acessibilidade aos portadores de deficiência física nos terminais bancários de auto-atendimento.

A ação está tramitando na 3ª Vara da Justiça Federal e foi impetrada pelo cineasta Franco Groia contra a Caixa Econômica Federal. A juíza Sílvia Elena Petry Wieser concedeu a indenização de R$ 1 mil ao cineasta e deu prazo de 30 dias para o banco providenciar um equipamento adaptado para deficientes em seus terminais. Caso isso não aconteça, a multa será de R$ 500 para cada dia que o banco descumprir a ordem judicial. A decisão, no entanto, pode ser questionada em recurso.

Segundo Groia, o resultado é positivo, já que pode beneficiar um grande grupo de pessoas. Ele considera, no entanto, a indenização muito pequena. “Este valor não afeta a Caixa Econômica em nada. Parece piada. Vamos requerer um aditivo.” No ano passado, o cineasta ganhou uma ação contra o Bradesco. Na ocasião, além da multa diária - que foi semelhante - foi fixada indenização de R$ 5 mil.

Necessidades especiais
A base da ação é a falta de condições de acesso e operacionalização para os portadores de necessidades especiais. A assessoria da Caixa informou que o banco ainda não teve acesso a todo o conteúdo da sentença e que por isso não vai se pronunciar sobre o caso. O valor originalmente requerido por Groia é de cem salários mínimos - o equivalente hoje a R$ 35 mil.

(Jornal Tribuna de Minas - Juiz de Fora, quarta-feira, 24 de maio de 2006)

Longo caminho para a democratização

CONSELHO MUNICIPAL DE CULTURA

A Câmara apresentou ontem à classe artística de Juiz de Fora a proposta de lei para criação do Conselho Municipal de Cultura formulada pela Prefeitura. Em audiência pública, membros do poder público, produtores e representantes de entidades culturais, além de vereadores, discutiram o projeto, que gerou muitos pontos polêmicos, como a paridade e o poder deliberativo do conselho.

Segundo proposta do prefeito Alberto Bejani, dos 31 membros sugeridos para compor o grupo, dois terços seriam do poder executivo e os demais, da sociedade civil, representando diferentes entidades culturais da cidade. Além disso, o conselho teria poder apenas consultivo. “Este órgão deve ser a instância máxima da política cultural do município e tem que estar acima de divergências partidárias”, reivindicou o jornalista e produtor cultural Jorge Sanglard, ressaltando a importância de que o processo de formação do conselho seja “o mais democrático possível”. Para o presidente da Fundação Museu Mariano Procópio (Mapro), Francisco Antônio de Mello Reis, a necessidade deste conselho é inegável, e ele já deveria existir há muito tempo. “Meu medo, entretanto, é que ele se torne apenas um órgão burocrático para recolher assinaturas que viabilizem o funcionamento das instituições. Não podemos deixar isso acontecer”, afirmou.

Diante das reivindicações unânimes da classe artística para que fosse aprofundada a discussão, o vereador do PT, Flávio Cheker, convocou nova audiência, desta vez convidando todos os produtores culturais. “As sugestões de alteração do projeto devem ser encaminhadas à Comissão de Educação e Cultura da Câmara, para depois serem recolhidas, avaliadas e apresentadas as emendas”, informou o vereador. Quanto aos membros integrantes deste conselho, nada foi decidido. “Não é só a produção que está em jogo aqui, mas também a gestão, a distribuição e a visibilidade da cultura da cidade. O Sistema Nacional de Cultura vai aumentar e garantir a chegada de capital ao nosso Fundo Municipal”, diz o cineasta Franco Groia, lembrando que o sistema de conselhos vem funcionando há alguns anos em cidades como Recife, Florianópolis e Porto Alegre, o que serviu de inspiração para a atual diretriz federal.

(Jornal Tribuna de Minas - Juiz de Fora, quarta-feira, 24 de maio de 2006)

Projetos de cinema se misturam com projetos de vida

Juiz de Fora é um berço de talentos. O cineasta Franco Groia, profissional já conceituado na área e sócio da Groia Filmes, está com vários projetos para 2006 e conversou com “eMiolo” sobre cinema, política e suas atuações na área social. Confira:

Você cursou Comunicação Social na UFJF. O interesse pelo cinema começou nessa época?

Não exatamente. Meu interesse sempre foi o cinema desde pequeno, afinal sempre vivi em torno do cinema através de idas freqüentes ao cinema e na infância sempre tive o hábito de freqüentar o Cine Excelsior. Quando fiz vestibular pela primeira vez foi a época tenebrosa da Era Collor, que deixou o cinema brasileiro na estaca zero no início da década de 90. Nesta época optei por fazer Comunicação Social com habilitação em Rádio e TV, sendo meu interesse pela produção mais voltada para a área de TV. Como nada é por acaso, tive a sorte de ter contato com o cinema propriamente dito ao final do curso quando fui fazer cursos específicos na área, através do FAT, promovido pela Prefeitura de JF, a UFJF e o Governo Federal. Acabei me graduando em Comunicação Social e logo em seguida fui trabalhar com cinema.

Há alguns anos, o mercado cinematográfico em Juiz de Fora tinha menos visibilidade que atualmente. Como é fazer cinema na cidade?

Muita coisa tem mudado: hoje temos um curso de graduação efetivamente operando em JF, formando uma turma a cada semestre (no qual eu também leciono); temos uma Lei Municipal de Incentivo a Cultura exemplar, que fomenta não só outras áreas da cultura como também o cinema da cidade; conseguimos estabelecer um grande evento nacional de cinema anualmente na cidade, que é o Festival Primeiro Plano; e procuramos constantemente trabalhar na consolidação de um fluxo produtivo de filmes Juizforanos através de nossa produtora, a Groia Filmes, que produz não só filmes como propagandas e diversos eventos culturais.

A Groia Filmes está no mercado desde 1999. Entretanto, ainda existem pessoas que acreditam que é melhor trabalhar em lugares como RJ e SP. O que você acha disso? Já quis sair daqui?

Não acredito que sair da cidade seria a real solução para qualquer pessoa. Meu real interesse é ir na contra-mão deste senso comum, pois acredito no potencial de Juiz de Fora e o meu grande barato, assim como de diversas pessoas que optaram em permanecer na cidade é lutar para construir uma história real e permanente de produção cinematográfica de Juiz de Fora.

Você foi candidato a vereador pelo PT em 2004. Tem planos de se candidatar novamente? O que está achando da atual administração?

Não sei dizer hoje se vou me candidatar novamente. Hoje a conjuntura é bem diferente daquela de dois anos atrás e a vida pública necessita realmente de dedicação quase que diária. Continuo filiado ao PT Municipal. Naquela ocasião, a área da cultura não tinha nomes que a representassem na Câmara Municipal, e hoje a classe já está mais organizada e acredito ser capaz de lançar seus próprios nomes e direcionar uma política cultural para nosso município. Particularmente, enquanto cidadão foi uma experiência muito gratificante de exercício pleno de cidadania e acredito ter sido uma grande experiência pessoal ter vivido todo o processo eleitoral naquele ano. Até porque todo o discurso que se tem em volta da democracia e inclusão social percebi que é mera retórica, pois não tive a mesma possibilidade de visibilidade do que outros candidatos, não só do ponto de vista econômico, como também de acesso a comícios e afins, haja vista que a Justiça Eleitoral não garante nem fiscaliza as regras de igualdade entre os candidatos. Apesar de tudo isso, agradeço a todos aqueles que acreditaram na nossa bandeira, afinal foram 730 votos numa primeira incursão eleitoral.

Você já moveu uma ação para que um banco se adaptasse às suas (e de muitos outros) condições físicas e obteve sucesso. Como você analisa a imagem que a sociedade tem do deficiente? Está envolvido em algum projeto social?
A sociedade de um modo geral nunca viu o deficiente como um igual, capaz de viver uma vida normal, apesar de suas limitações e, sobretudo, estar incluído dentro do que entendemos ser o segmento economicamente ativo da sociedade. Temos que deixar de lado aquela idéia paternalista do deficiente enclausurado em seu lar, incapaz de se relacionar e ter uma vida normal. Hoje me envolvo com alguns movimentos sociais. Apoio iniciativas comunitárias que acreditam no potencial da cultura enquanto ferramenta de transformação social.
Você está filmando, ou tem planos de iniciar a produção de algum curta no momento?

Atualmente estamos em várias produções e o que posso adiantar é que está em fase final de produção meu último filme, intitulado “Chave”, e estamos produzindo o curta metragem “Condenado”, de Bernardo Falcão, e iniciamos a produção do longa metragem “Lanterna Mágica”, de Alexandre Alvarenga.

E o Festival Primeiro Plano? Será realizado esse ano? Terá apoio de alguma lei, empresa ou fundação?

Certamente, acredito, que o festival terá a sua edição 2006 realizada normalmente. Acredito também que as empresas da cidade venham a patrocinar o evento através das Leis de Incentivo a Cultura e possam proporcionar ao povo de Juiz de Fora mais um grande evento para a cidade.

Qual dica você dá para os novos cineastas que estão surgindo em Juiz de Fora?

Serenidade, perseverança e, sobretudo disposição para entrar realmente no mercado cinematográfico. Uma boa dica também é assistir a um filme diariamente.

Fonte: www.emiolo.com - publicada no site dia 12 de maio de 2006

09 abril 2006

Entre os criativos do Curso de Publicidade da Universo


Franco entre seus queridos ex-alunos (agora amigos) Harley, Kauana e Fael.

Caricatura - Parte I


Caricatura feita pelo amigo Cacinho em 2005.

01 abril 2006

Cinema no Rio

Franco Groia e seus alunos de cinema da Universo, estiveram, anteontem, no MAM do Rio para participar da Semana da ABC – Associação Brasileira de Cinematografia. Com direito a um caloroso debate sobre direção de arte na TV e no cinema, com Marcos Flaksman, Ricardo Della Rosa e Fábio Soares.

(Coluna "Cesar Romero" do Jornal Tribuna de Minas de 1 de abril de 2006)

31 março 2006

Tempos que não voltam mais

Quem nunca ouviu falar na lendária cantina da Faculdade de Comunicação (Facom) da UFJF, com suas festas e eventos culturais? Na década de 90, as Sextas Culturais e as Zonas Literárias, promovidas por alunos, funcionários e professores, transformaram o espaço de convivência da Facom em um verdadeiro point do campus, com manifestações artísticas diversas, criando oportunidades de os alunos mostrarem seus talentos e atraindo a comunidade não-acadêmica também. Desativada no último dia 17, a área de convivência vai dar lugar à construção de três novas salas. As obras já foram iniciadas e, segundo a coordenação de Imagem Institucional, o projeto é considerado prioritário pela reitora Margarida Salomão.

“O espaço era ponto de encontro de alunos de vários períodos e também de outros cursos, possibilitando uma troca de experiência e um aprendizado, às vezes, mais importante que as aulas”, lembra a professora aposentada Leila Barbosa. A construção de salas no local partiu de uma solicitação da direção da faculdade. De acordo com a diretora, Marise Pimentel Mendes, a necessidade de mais salas tornou-se ainda mais urgente com a consolidação do curso noturno, a abertura de novos cursos de especialização e a expectativa de implantação do mestrado.

Em contato com a direção das unidades vizinhas ao prédio da comunicação, a intenção de Marise é pleitear um novo espaço de convivência - mais amplo e com restaurante apropriado -, que integre todo o setor de Estudos Sociais. Mas, enquanto os planos não saírem do papel, o fato é que os alunos ficarão sem este ponto de encontro, que um dia teve um papel complementar para a formação acadêmica de alunos que presenciaram o auge de toda a integração cultural e tornaram-se jornalistas, publicitários, músicos, cineastas e etc.

Espaço de convivência e cultura Tudo começou quando uma turma de alunos decidiu criar um evento para movimentar o local, ainda semi-habitado. Um deles, Nivaldo Alvarenga, hoje sócio-diretor de uma agência de propaganda, conta que a idéia original das Sextas Culturais era fazer um evento que integrasse os alunos e movimentasse o espaço, atraindo para o prédio acadêmicos de outros cursos e pessoas de fora da universidade. Uma equipe de estudantes partia em busca de patrocínio junto à iniciativa privada e outra ficava por conta da programação. O sucesso transformou a iniciativa em projeto de extensão, que passou a receber recursos da UFJF e orientação de professores.

O evento começava à tarde, por volta da 15h, com a exibição de clássicos do cinema no telão do anfiteatro. Depois do filme, o programa contava com atividades diversas a cada semana, como exposições de pinturas, fotos, desenhos, lançamentos de livros, fanzines, desfiles de moda alternativa e apresentações de capoeira. Lá pelas 20h, começava o show, sempre com bandas locais, muitas vezes formadas por alunos. “Tínhamos um público muito bom e chegou um momento em que as pessoas nos procuravam para fazer parte do evento, porque era um espaço aberto e com muita visibilidade”, lembra com orgulho o publicitário.

Bandas conhecidas até hoje no circuito cultural da cidade, como Eminência Parda e Boa Pergunta, se formaram no contexto das Sextas Culturais. Artistas da cidade tiveram suas primeiras criações exibidas nos eventos, como é o caso dos cineastas Rogério Terra, Marcos Pimentel, Léo Ribeiro, Franco Gróia, Alexei Divino. Até a cantora Ana Carolina, hoje conhecida nacionalmente, já se apresentou em uma Sexta Cultural. “Grande parte do que aprendi na UFJF foi neste intercâmbio multicultural que acontecia na cantina da Facom”, declara o ex-aluno Léo Teixeira, integrante da banda Boa Pergunta.

No entanto, com o passar dos anos, o projeto acabou se distanciando da idéia original. “Antes, o entretenimento e a cervejada eram apenas conseqüências e vinham no final da festa”, conta Léo. “Quando a minha turma se formou, o Diretório Acadêmico decidiu que, a cada semana, a organização do evento ficaria por conta de uma turma, e a renda arrecadada com a venda de bebidas durante o show seria destinada aos fundos de formatura. Então, a coisa perdeu um pouco o caráter cultural pelo comercial”, lamenta Nivaldo.

Formação cultural fora de sala A professora Leila Barbosa considera a falta de uma área de convivência como uma falha da educação. “O espaço era carregado de sua cultura, e ali os estudantes tinham idéias.” O cineasta Rogério Terra também ressalta que, por ser um curso da área de Humanas, há necessidade de um ambiente para celebrações, bate-papo informal e manifestações culturais. Para o jornalista Fabiano Moreira, também formado pela Facom, o espaço era tido como um lugar de pessoas antenadas. “Só quem viveu o que rolava ali sabe o quanto vai fazer falta para a universidade.” Em eventos como as Sextas Culturais e as Zonas Literárias, ele costumava lançar o fanzine Bate Macumba, com uma mescla de trabalhos de alunos, professores e artistas.

As Zonas Literárias aconteciam a cada semestre durante os anos de 1995, 96 e 97. O projeto foi idealizado pelas professoras de Redação em Língua Portuguesa, Leila Barbosa e Marisa Timponi que, fascinadas com a criatividade dos alunos expressa em trabalhos e seminários, decidiram expandir o universo das salas de aula para um espaço público. Os eventos reuniam poetas, escritores, músicos, estudantes, funcionários e professores com o objetivo de estimular a produção literária.

(Matéria publicada no Jornal Tribuna de Minas, dia 29 de março de 2006.)

12 março 2006

Cineastas, diretores e produtores discutem os caminhos do cinema digital

Cinema digital
(R)Evolução cinematográfica?

Reduzir custos de filmagens cinematográficas em menos da metade parece um sonho impossível para profissionais do ramo, mas o fato é que o cinema caminha cada vez mais para a democratização, graças ao sistema digital, que vem sendo tão debatido nos últimos anos. A nova tecnologia, que não pára de ser aperfeiçoada, caiu nas graças de cineastas como George Lucas, Lars Von Trier, Spike Lee, Mike Figgs e outros, sem contar brasileiros como Eduardo Coutinho e Domingos Oliveira, que vem exibindo em festivais seu último trabalho realizado com apenas R$ 35 mil. Este baixíssimo orçamento de “Carreiras” foi possibilitado pela escolha do digital e pela cooperativa de técnicos e atores formada pelo diretor.

Cineastas juizforanos também experimentam o novo formato. A Groia Filmes, criada em 1999 para a realização do curta “Calçadão”, de Franco Groia, tem implementado cursos livres intensivos e de cunho profissional dentro de tecnologia de pós-produção e produção digital, tratamento de imagem, efeitos especiais e edição. A proposta dos sócios Franco e Flávia Lima é formar um leque de profissionais gabaritados nesta convergência tecnológica, a fim de atender as demandas locais.
O digital também aumentou as perspectivas de estudantes como os da faculdade de cinema de Juiz de Fora, Josy Visonar e Cacinho, premiados no último ano no concurso Trama Universitário por um videoclipe para música de Tom Zé. Motivados, os jovens realizadores continuam a produzir e acabaram de lançar o curta “Sofia”, recém-exibido na cidade. Para o assistente de direção e videasta paulista Eduardo Aguilar, o digital viabiliza e concretiza o processo prático do aprendizado. “Se pensarmos em utilizar a película nesse tipo de estrutura, estaríamos inviabilizando a realização de oficinas ou, no mínimo, confinando-as ao contexto teórico”, diz Aguilar, que viaja Brasil afora ministrando oficinas.
Qualidade da imagem
As produções cinematográficas em sistema digital, com cópia em fitas ou HD (disco rígido), podem ser exibidas tanto em tela grande quanto em aparelho doméstico de TV sem, no entanto, fazer com que as diferenças de imagem em relação à película passem incólumes pelo espectador.
“O que observo no dia-a-dia junto aos amigos, cinéfilos ou não, é que, nas exibições que têm utilizado cópias digitais, o público pouco se dá conta das diferenças de imagem, e em relação aos filmes realizados diretamente no suporte digital, as diferenças são percebidas ainda que de forma inconsciente através de um certo incômodo”, constata Aguilar, ressaltando que, caso o filme agrade enquanto proposta, isso não pesa na avaliação. “Evidentemente, os mais bem informados e que detêm maior capacidade técnica para avaliar as questões de definição de imagem reclamam em especial das exibições digitais de filmes captados em película”, diz o assistente de direção.
Para Aguilar, o público é quem menos se importa com as discussões estéticas. “Claro que, se nivelarmos por baixo e aceitarmos as atuais condições de qualidade do digital como definitivas, sem cobrarmos insistentemente pelo seu aprimoramento, isso acomodará os padrões de exigência de imagem em um patamar inferior”, alerta. Ainda não muito “encantado” com as vantagens do digital, o diretor Carlos Reichenbach - um dos mais respeitados diretores em atividade no Brasil, responsável, entre tantos, pelos mais recentes “Garotas do ABC” e “Bens confiscados” - considera o atual sistema de projeção digital uma televisão gigantesca.
“O cinema levou mais de cem anos para se aproximar da pintura, e a imagem digital jogou isso na latrina”, completa Reichenbach. “Não sou contra o digital, sou a favor da película para os filmes que exigem um trabalho acurado de cinematografia, mas rodaria tranqüilamente um longa todo com câmera numérica (digital) se precisasse de agilidade e pouquíssimos recursos técnicos”, justifica o cineasta.
O juizforano Franco Groia, em fase de finalização de seu último filme, “Chave”, em que utiliza processo de intermediação digital, diz que a principal diferença da película para o digital é o barateamento da produção com este último, além da promessa do também barateamento dos ingressos para o público, com as ainda incipientes projeções digitais. Para Groia, a tecnologia digital caminha para o aperfeiçoamento da imagem. “Vendo pela TV, não se tem perda alguma da imagem. Mas, na telona do cinema, a película é de longe a coisa mais cristalina e perfeita. A imagem feita de grãos de prata é algo diferente dos pixels do computador”, opina Franco.
Democratizar sim, mas sem banalizar
O cineasta juizforano Marcos Pimentel teme que o acesso facilitado pelo baixo custo do digital banalize o critério cinematográfico. “Democratizar é ótimo, mas, com fita digital barata, todo mundo está saindo para filmar. É comum ver pessoas com horas e horas de material. Quando chegam para editar, descobrem que fizeram a parte de pesquisa filmando. Só sabem qual filme deveriam fazer depois que deixaram de filmar. Precisamos continuar pensando à moda antiga”, diz Marquinhos.
Especialmente quando se trata de documentários, a praticidade do formato (digital) determina novas linguagens e um aumento significativo da produção. A produtora Flávia Lima, sócia da Groia Filmes, afirma que a grande maioria dos documentários é feita em vídeo digital. “Película é muito cara, e rolos de negativo 35mm duram quatro minutos, os de 16mm, 12 minutos. Em documentário, coisas inesperadas aparecem, e é legal não ter que parar para trocar um rolo de negativo”, explica Flávia.

A produtora ressalta que, no processo de finalização, pode-se transferir o documentário para o rolo de negativo, de forma que o filme rode em um projetor de cinema e possa participar de festivais como película. “Infelizmente, os cineastas vão acabar abandonando a película... Mas concordo que, como no documentário, a estrela é o assunto, a câmera numérica facilita tudo”, conclui Reichenbach.
A demora para a implantação do cinema digital não é pela qualidade de imagens, cores, contrastes... A briga é comercial. É briga pela venda de filme virgem para produção e cópias, é briga por distribuição e por exibição. Para o assistente de direção e videasta Eduardo Aguilar, será uma pena se o digital for imposto pelo rolo compressor do mercado. “Seria bem melhor que o caminho fosse o contrário, que através da ousadia e da experimentação, os jovens realizadores provocassem a melhora dessa ferramenta e a sua imediata implantação”, diz ele.
Aguilar entende que há certa resistência em abandonar a película. “Como se não bastassem as diferenças de qualidade a favor da película, ela guarda em si um certo ‘glamour’ que fascina a grande maioria dos envolvidos com o meio, mas entendo que a mudança é inevitável, e que o fator determinante será o econômico, o que já vem sendo percebido pela indústria de Hollywood; e, contra esse poder de discussão, todos serão voz vencida.”
Linguagem x formato
A maioria dos profissionais de cinema ainda considera o digital um formato. “A linguagem do cinema continua sendo do cinema. Claro que tem coisas que a TV aperfeiçoou, mas o cinema continua tendo esta hegemonia em forma de linguagem”, diz Franco Groia. Já Marcos Pimentel aposta que o digital vai acabar incorporando novidades à linguagem cinematográfica, mesma opinião de Eduardo Aguilar.
“Quando penso nisso, me vem à cabeça a idéia de uma linguagem já estabelecida que sofrerá mutações, mas não uma ‘nova’ linguagem. No entanto, admito que se pensarmos o digital além do suporte, enquanto processo de distribuição via internet, em uma provável interatividade, certamente, poderíamos estar falando de uma nova linguagem”, diz Aguilar.

Carlos Reichenbach enfatiza a necessidade de desmistificar a palavra digital como se ela fosse a “panacéia”. “Infelizmente, tem gente encarando o digital como uma linguagem. Por isso o cinema está ficando muito parecido com a televisão. Se o optical disk (suporte) ou qualquer outro suporte mais amplo e generoso que o negativo fotográfico for adotado mundialmente um dia, aí sim poderemos ver nascer uma nova linguagem, porque as possibilidades plásticas e inventivas do cinema se tornarão infinitas”, prevê.

Aguilar considera esta discussão ainda acanhada. “Como qualquer novidade, as pessoas temem as mudanças. Foi assim na troca do cinema mudo para o sonoro, do preto e branco para as cores. Acho que ocorreram perdas em ambos os casos, mas houve recomposição dessas perdas através de novos ganhos”, ressalta. Discussões à parte, o assistente alerta: “Assim como não faz sentido ter saudades da máquina de escrever, acho que é preciso explorar o digital, apontar suas falhas, mas trabalhar junto e a partir dele”.
Diferenças, vantagens e desvantagens
No cinema em película, a imagem atravessa a lente de uma câmera cinematográfica e vai impressionar o filme virgem. Finda a filmagem, o filme é retirado do chassis e mandado para o laboratório, passando pelo processamento caro de revelar, telecinar, criar efeitos especiais e editar. No cinema digital, a imagem também atravessa a lente de uma câmera, porém não sensibiliza uma película cinematográfica. A imagem é convertida imediatamente em sinal eletrônico e não é preciso filme virgem, além de os custos com compra de HD (hard disk) serem fixos. A edição é ágil - já que não precisa de moviola (mesa de montagem profissional) - e, quando fica pronta no arquivo do computador, faz-se a cópia final para exibição diretamente de HD para HD ou em fita para exibição em salas de cinema digital e TV. Computadores domésticos equipados com portas IEEE 1394 (FireWire, I-Link (Sony), Pinnacle DC-30 de preços entre US$500 a 3 mil) permitem editar, mixar e até mesmo adicionar efeitos especiais.

(Matéria publicada no Jornal "Tribuna de Minas" - 12 de março de 2006)