25 setembro 2005

Primeiro Plano 2003


Franco Groia é juizforano, formado em Rádio TV pela Faculdade de Comunicação da UFJF e trabalha com cinema desde 99. Ele conta que essa história toda de cinema começou com uns cursos de capacitação promovidos pela Universidade Federal, com profissionais de fora (Rio e SP), e que a partir daí nunca mais quis deixar de produzir. Seu primeiro filme foi “Calçadão - Onde de tudo acontece”, seguido de “O fio e a cidade” e “Verdade e conseqüência”.

Em entrevista ao Zine, Franco fala de seus planos profissionais e revela as últimas novidades da edição 2003 do Festival de Cinema Primeiro Plano, que acontece em JF de 21 a 25 de outubro.
Como é trabalhar com cinema em Juiz de Fora?
A atividade cultural da cidade se reflete numa total desorganização. A atividade surge espontaneamente, como surgiu a vontade de realizar cinema na minha época, quando fiz os cursos de capacitação em 1998... Mas, não há uma estruturação. Não temos um sindicato de artistas forte, atuante, não temos um mercado de trabalho organizado, porque faltam mecanismos, estruturas que façam eles se profissionalizarem. E o poder público de certa forma joga na mão dos fazedores de cultura essa responsabilidade, se isentando do dever de propiciar e incentivar essa organização.
Nós temos até um projeto de lei, proposto pelo Biel, que se arrasta há cerca de um ano e meio, que trata da constituição de um Conselho Municipal de Cinema agregado a um Fundo Municipal de Cinema. Esse projeto não é algo idealista, não, é espelhado numa política nacional, que já foi viabilizada em outras cidades. Nós queremos implantar isso aqui, porque a cidade deve voltar ao seu patamar de inovação e vanguarda artística e cultural. O cinema é muito importante e o cinema de Juiz de Fora faz com que as pessoas comecem a pensar na sua relação com a cidade, o que pode levar a uma mudança de mentalidade e de atitude.

Você já pensou em sair da cidade? Quais são suas expectativas de futuro?
É um dilema violento, mas a minha identidade, a minha personalidade é de alguém bem teimoso, meio cabeçudo... (risos). Mas já tive vários convites, e descartei todos porque ainda acredito que vai haver uma maior valorização do cinema local. E o fruto deste ideal, que me motiva, é a realização do Festival Primeiro Plano. Este evento é a única coisa concreta que nós conseguimos implementar efetivamente na cidade, mostrando o potencial que o cinema tem enquanto multiplicador e irradiador de cultura, uma cultura de costumes, uma cultura turística que a gente pode estar agregando à cidade, palco da nova geração do cinema nacional. Através desse festival, anualmente a cidade pode estar sendo propagada no Brasil inteiro como a janela do novo realizador. E isso tudo faz parte de uma grande luta que a gente está vencendo, já realizando a segunda edição do Primeiro Plano.
Como surgiu a idéia de promover o Festival de Cinema de Juiz de Fora - Primeiro Plano? E com qual objetivo de sua realização?
A iniciativa para se criar o Primeiro Plano nasceu há dois anos atrás, quando nós paramos pra pensar que Juiz de Fora é um pólo produtor de cinema. No entanto, os investimentos para cinema só são obtidos para a produção. Não existe nenhuma ação do município que contemple as outras necessidades, como a promoção e a difusão desses filmes. Aí, cai para o produtor individual a luta para exibir, sem nenhum retorno. E como um filme não tem função nenhuma se fica na prateleira, nós pensamos em realizar um festival.
Agora, entre os objetivos, o que nos motiva a fomentar esse festival anual é o desejo de ser um canal de exibição de produtos feitos na cidade, junto com produções do Brasil inteiro. Tem também o caráter de competição nacional, entre curtas metragens, e a competição regional de vídeos. Tudo isso para incentivar a produção local, para que novos produtores sejam capazes de se estruturar enquanto realizadores.
E quem está contigo na organização?
Eu e o Aleques Eiterer somos os coordenadores, mas foi ele o idealizador de fazer um festival voltado para o primeiro filme, tendo esta característica como a principal, o que faz com que o Primeiro Plano não seja apenas mais um festival de cinema. Quer dizer, o grande diferencial nosso é incentivar os grandes cineastas do amanhã, porque todo cineasta começa com o primeiro filme. No mundo todo, só existe um festival similar, na França, de onde surgiu nossa inspiração.
Para a realização contamos com o grupo Luzes da Cidade, compostos por cinéfilos e produtores culturais da cidade que atuam sem fins lucrativos, e a Groia Filmes, que é a minha empresa.
De onde são os recursos? Quem patrocina este mercado cultural? Quais as principais dificuldades?
Hoje nós temos um grande patrocinador para o mercado de curtas, que é a Petrobrás, mas entendemos que outras empresas também devam fazer o mesmo. E, localmente, nós lutamos para que o poder público possa dar esse passo fundamental, com a estruturação de uma sala municipal de cinema, pois não basta uma saleta como aquele Anfiteatro João Carriço, que chega a ser uma vergonha em termos de investimento. Precisamos de numa sala com estrutura própria, uma Sala Municipal de Cinema gratuito, porque o cinema deve ser prioridade nos investimentos culturais, é uma arte que pode agregar todas, o teatro, a dança, a música. Nós insistimos para que isso aconteça aqui, porque temos uma base para isso. Temos o Cine Excelsior aí parado, só falta um pouco de investimento do poder público.
E como está a participação da iniciativa privada?
Estamos fechando alguns acertos. Temos alguns apoios fundamentais, por exemplo do Terra, que está desenvolvendo o site do festival, que vai virar um grande portal. Temos parceira também com o canal Brasil, que nos apóia na promoção. Enfim, temos alguns parceiros estratégicos que estão aí, desde o ano passado, acreditando e fazendo acontecer.
Você pode nos fazer um balanço de como foi o Festival no ano passado e o que podemos esperar para esse ano?
O ano passado foi genial, como primeiro ano. Nós tivemos a exibição de 77 filmes, sendo 28 em caráter competitivo, entre curtas e longas. Nós ainda priorizamos o formato curta-metragem, mas para o próximo ano estamos planejando abrir a competição para longas, porque a atividade cinematográfica nacional está crescendo muito.
E as novidades, teremos alguma modificação? Como vai ser o Primeiro Plano 2003?
Eu vou te contar uma grande novidade, em primeira mão aqui para o ZineCultural. É uma coisa que nós ficamos sabendo há algumas semanas, que a gente conseguiu recursos da Lei Rouanet. É isso aí, o Festival está habilitado na Lei Rouanet! Mediante todos os obstáculos burocráticos, com essa votação da reforma da previdência e tudo o vem acontecendo no Congresso Nacional, as leis de incentivo a cultura ficaram meio paradas. Esse resultado já era pra ter saído em maio, mas como só veio agora, nós vamos fazer a captação de recursos para o Festival desse ano, já pensando na sua continuidade em 2004. Fomos aprovados em R$334.724,91 para captação.
Nós queremos que o Primeiro Plano seja o grande festival da cidade, porque temos vocação pra cultura, fomos berço de grandes nomes como Murilo Mendes, Pedro Nava, João Carriço, que foi um pioneiro do cinema mineiro. Temos também grandes músicos, grandes artistas. Enfim o Brasil precisa conhecer nossa produção e o festival serve não só neste sentido, mas também para nós bebermos do que está acontecendo no resto do país. Este é que é o grande barato!
O Festival Primeiro Plano tem entrada franca e vai acontecer no Pálace de 21 a 25 de outubro.
Já pode nos adiantar algo sobre a programação? O que vai ter de especial?
A programação ainda vai sair, é só ficar ligado no site para saber das novidades que vão acontecer. Nós esperamos que o Festival seja, mais uma vez, um elemento de motivação para que novas produções sejam realizadas, porque o próximo ano já está batendo na nossa porta. Enfim, o cinema nacional está velho, os grandes cineastas estão todos com mais de 60 anos. Então temos essa urgência de incentivar os novos talentos. Uma cinematografia que se preza tem que estar constantemente trazendo o novo, novos realizadores, novos pensadores. Nós temos a consciência de que é essa a nossa função, mesmo que seja a médio ou a longo prazo, nada imediato.
(ZineCultural, 18 de setembro de 2003)

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