12 julho 2007

Cine São Luiz - Só fachada

Juiz de Fora perde um cinema que fez história nos décadas de 1960 e 70 no momento em que os esforços estão voltados para revitalizar a Praça Doutor João Penido e transformá-la em um centro de entretenimento e cultura. O Cine São Luiz, que há mais de 50 anos é espaço para projeções na cidade, deverá ser transformado em estacionamento. De propriedade da Companhia Cinematográfica Franco-Brasileira, o prédio está em obras desde a última semana e teve os projetores retirados e parte das poltronas removidas e acumuladas no saguão de entrada durante o final de semana. Ontem as obras continuavam com dois pedreiros trabalhando em horário integral. Informada pela Tribuna sobre as intervenções, a Prefeitura, por meio de sua assessoria, garantiu que a empresa não está autorizada a executar o trabalho e promete embargar a obra hoje pela manhã.

Fiscais da Secretaria de Política Urbana (SPU) estiveram no prédio no final da tarde de ontem e notificaram os funcionários sobre a necessidade de licenciamento. O embargo não foi efetuado devido à ausência de um responsável. Ficais da SPU e equipe da Divisão de Patrimônio da Funalfa deverão verificar os trabalhos, para levantar possíveis danos e exigir reparação.



Não há mais público nem funcionários do extinto cinema. Pela sala, que foi uma das mais importantes nas décadas de 60 e 70, quando era palco para o lançamento das películas antes de chegarem nas outras salas de exibição, restam apenas entulhos, madeiras quebradas e muita poeira.



O espaço teria sido alugado para um grupo do Rio de Janeiro, que administra estacionamentos. Tombado como patrimônio do município em 1999, o cinema, juntamente com o Hotel Renascer - que funciona no piso superior -, compõe um prédio com características marcantes do estilo art déco, construído na primeira metade do século XX. Para a presidente do Programa de Estruturação e Revitalização da Memória Arquitetônica e Artística (Permear), Mônica Olender, trata-se de uma iniciativa condenável. “Hoje fala-se em revitalização daquele entorno, parte de um projeto ainda maior: a revitalização de todo o Centro de Juiz de Fora. A praça sempre foi porta de entrada do município, e o cinema faz parte disso tudo. É um absurdo que projetos como esse, que em nada contribuem para o resgate dessa efervescência cultural, continuem sendo pensados e realizados na cidade. A população precisa se mobilizar.”



Membro do Grupo de Cinéfilos e Produtores Culturais - Luzes da Cidade, Carlos Pernisa Júnior garante que não dá para evitar o estranhamento. “Vivi minha infância naquela praça. Retomar o São Luiz como espaço reconhecidamente de cinema é, de longe, a melhor alternativa. Ele integra o conjunto arquitetônico da Praça da Estação, além de estar próximo à Sociedade de Belas Artes e ao Museu Ferroviário, formando um bom circuito de cultura. Por mais que as obras não atinjam a fachada do edifício, ainda assim é questionável. Um estacionamento naquele lugar destoa do propósito de resgate histórico-cultural.”



Pelo decreto de tombamento do edifício (06445/99), foram considerados os valores histórico e cultural que envolvem o bem, além de sua integração ao conjunto arquitetônico da Praça da Estação. A estrutura predial é marcada por partes reentrantes e salientes, que dão ritmo à composição e permitem perfeita harmonia de proporções. Os balcões curvos ampliam a perspectiva e acentuam sua monumentalidade.



PJF prevê transformação em centro cultural. O projeto inicial para a revitalização da Praça da Estação, pensado pela Prefeitura em parceria com a Associação Comercial, consiste em transformá-la em uma praça de alimentação. Nesse cenário, o Cine São Luiz se tornaria um centro cultural e palco permanente para shows. Incomodado com o fim do cinema, o Secretário de Turismo, Indústria e Comércio, Ricardo Francisco, ressalta o fato de que, apesar de o imóvel ser particular, trata-se de prédio tombado. Nesses casos, os proprietários precisam solicitar licença junto à Divisão de Patrimônio da Funalfa, antes de qualquer intervenção. “Fiquei sabendo da obra no início da tarde e acionei a Secretaria de Políticas Urbanas (SPU) para que os fiscais fossem ao local. O interesse da administração municipal é de preservar a área.”



Ainda segundo Ricardo, o projeto de revitalização do Centro está na fase de desenvolvimento, com o diagnóstico dos imóveis. “Estamos realizando levantamento detalhado sobre o tamanho dos imóveis, potencialidade, e não leva em conta apenas a área externa. Precisamos de um escopo bem definido, até mesmo para conseguir parceiros de peso, como a Petrobras.”



Para o cineasta Franco Groia, as atuais obras no Cine São Luiz desperdiçam o potencial estratégico do prédio e refletem o poder especulativo dos proprietários. “Esse espaço poderia ser usado como um dos principais alicerces no projeto de revitalização do Centro. Otimizado, seria um belo começo para a retomada das atividades culturais naquela praça.”



- A Tribuna tentou contato com a Companhia Cinematográfica Franco-Brasileira, com sede no Rio, mas os responsáveis não foram localizados. A informação repassada por ex-funcionários da empresa é de que os locatários devem estar na cidade hoje para vistoriar as obras.




(fonte: TM de 10 de julho de 2007)

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