18 dezembro 2007

Quando o baixo é o instrumento principal

De instrumento-base a estrela de uma banda inteira, nas mãos de Dudu Lima o contrabaixo perde o ar de coadjuvante para assumir o papel principal. Aos 35 anos, o baixista juizforano acumulou a experiência que o público pode conferir em seu primeiro DVD, cujo lançamento acontece nesta quarta, no Comemorare. “20 anos de pura música” traz muitas participações especiais, entre elas a de Stanley Jordan, que há sete anos escolheu Dudu para acompanhá-lo em todas as suas apresentações pelo Brasil.

A parceria dá ao público da cidade o privilégio de ver Dudu e Jordan tocando juntos e ao vivo pela quarta vez, no show que terá ainda Big Joe Manfra e Ivan Conti Mamão (Azymuth), além do quarteto local Weber Martins, Dudu Viana, Ricardo Itaborahy e Leandro Schio. “Somos amigos há décadas. Dividir o palco com eles é olhar para trás e saber que o rumo tomado foi bom, provocou a união, a amizade e o crescimento conjunto de técnica, concepção e amizade”, diz Dudu.

O repertório será baseado no DVD, cujo material havia sido gravado em outubro de 2006, mas a disponibilidade de Jordan em participar do registro fez todo mundo voltar para o palco dois meses depois, quando o guitarrista excursionava pelo país. Os dois primeiros discos de Dudu, “Regina” e “Nossa história”, foram integralmente autorais. Desta vez, ele optou por registrar as músicas que mais marcaram sua carreira, utilizando baixo acústico e elétrico. “É um resumo do que fiz nestes 20 anos”, sintetiza, frisando que há muita música brasileira, além do jazz, que permite maior liberdade ao contrabaixo com mais freqüência que outros estilos.

“Quando se fala em jazz, imagina-se logo os standards americanos, mas, na verdade, estamos falando de música instrumental. Sempre toquei muita música mineira, ‘Cravo e canela’, ‘Nascente’ fazem parte do meu repertório, mas escolhi ‘Clube da esquina 2’ para fazer parte do disco porque tinha um arranjo que toco há 15 anos”, explica Dudu, dizendo que Milton Nascimento foi sua primeira influência - “lá em casa todo mundo ouvia” -, sem deixar de citar Toninho Horta. Neste formato das mais tocadas, entraram para o disco “Aquarela do Brasil” (Ary Barroso), “Brasileirinho” (Waldir Azevedo), “O trenzinho do caipira” (Villa-Lobos) e “Mercy, mercy, mercy” (Joe Zawinul), além de composições próprias, como “Regina”, gravada por Stanley Jordan em seu próximo CD.

Música espiritualDudu começou a tocar aos 11 anos. Aos 13, já ganhava dinheiro com música e, aos 15, dividia seu tempo entre dar aulas na cidade e estudar com Yan Guest e Adriano Giffoni, no Rio. O que estimulou tanto trabalho desde cedo? Dudu explica: “L0go que comecei a tocar, ganhei uma fita de vídeo do baixista americano Jaco Pastorius, que influenciou toda uma geração. Isso foi por volta de 1985, quando Jaco morreu. Antes dele, havia contrabaixistas acústicos de destaque, mas foi ele quem definiu o contrabaixo como instrumento solo. Na minha inexperiência, entendia pouca coisa do que estava vendo, mas sabia o que queria estudar, o que queria fazer com a música. Isso me deu uma direção, um caminho a seguir.”

E este caminho é muito próximo daquele seguido por Stanley Jordan. Ambos compartilham a mesma visão da música como algo espiritual. “Depois do primeiro show que fizemos, ele me deu um abraço e ficamos conversando por umas quatro horas. Acho que temos uma telepatia musical. A pessoa que ele é, a afinidade que a gente tem, o jeito de ver as coisas com profundidade e mais de 120 shows juntos. Tudo isso nos mostra o lado espiritual da música. Somos profissionais, vivemos disso, mas a música tem um lado de vocação, de transformação, que queremos levar para todo mundo”, diz Dudu.

Para Dudu e Jordan, esta extensão “para todo mundo” pode não incluir os meios de comunicação de massa, mas passa por hospitais e favelas. O mesmo show que fizeram no Teatro Municipal de São Paulo há pouco tempo foi apresentado na favela do Capão Redondo. “Não há diferença na receptividade, só no cenário”, afirma o baixista, acrescentando que, no mesmo dia, a comunidade recebeu shows de Lecy Brandão e de um DJ, além dos instrumentistas, sabendo apreciar todos os estilos.
Produção juizforana
Dudu Lima faz questão de dizer que pode tocar no mundo inteiro, mas não quer sair de Juiz de Fora, e que o DVD é resultado do trabalho de gente da cidade. “O que ganho por estar aqui é muito. É estar feliz com a vida.” Produzido pela Gravatás Arte e Cultura, o DVD contou com as empresas juizforanas Arca Music e Groia Filmes.

A Groia Filmes aposta no bom resultado do DVD de Dudu Lima para captar recursos para os filmes “Lanterna Mágica” e “Tedem”, ambos habilitados na Lei Rouanet. O primeiro, com roteiro e direção de Alexandre Alvarenga (Xanxão), conta a história fictícia de um diretor de cinema frustrado que tenta realizar um filme sobre Carriço. Comandado por Franco Groia, “Tedem” é um vídeo documentário sobre a concepção do instrumento e do método de ensino de música criado por Estêvão Teixeira.

- Nesta quarta, às 22h no Comemorare (Rua José Lourenço nº 714 - São Pedro.). Ponto de venda: Microtools, Phormar e Livraria Leitura. Informações: 3217-7595.
(Publicado no Jornal Tribuna de Minas, 18 de dezembro de 2007)

17 dezembro 2007

Novos filmes

Flávia Lima e Franco Groia, da Groia Filmes, a todo vapor na produção de dois longas.Eles foram habilitados pela Lei Rouanet para o projeto de “Lanterna Mágica” (filme sobre Carriço iniciado por Alexandre Alvarenga) e o documentário sobre o revolucionário “Método Tedem de Musicalização”, criado por Estevão Teixeira.

(Publicado na Coluna Cesar Romero do Jornal Tribuna de Minas, 16 de dezembro de 2007)

23 setembro 2007

Movimento Contemporâneo

Performances e reflexões sobre o universo da dança

“Um momento para discutir linguagens contemporâneas inseridas na dança.” É assim que a diretora da Ekilíbrio Cia. de Dança, Christine Silmor, define o Movimento Contemporâneo, que, este ano, está em sua segunda edição e se desenvolve a partir do tema “A construção de linguagens artísticas fora dos grandes centros”. O evento, direcionado para artistas, produtores, terapeutas e apreciadores da dança em geral, teve início ontem e continua hoje com apresentações performáticas e debates gratuitos, no Teatro do Pró-Música. Para a entrada, pede-se apenas a doação de um material de limpeza ou higiene.

A sessão de performances e espetáculos de dança será realizada das 19h30 às 21h30 e terá a participação de sete grupos de Juiz de Fora. Do Rio de Janeiro, virá a Cia. Eu com Ela, apresentando “Mana tão longe tão perto”, e de São Paulo, a Cia. de Dança Ame, com o show “Quem colabora em ou participa de outrem”. Entre as criações de companhias locais, o público poderá conferir “Pedaços de mim”, do Espaço de Dança JF, “Territórios”, da Voz do Corpo, “Trêmula”, da Y Cia. de Dança, e “60”, da Inércia Zero, além de “Mudança”, de Soraia Ramos, “À la table”, de Lia Mota, e “4’33”, de Raíssa Ralola.

Segundo Christine Silmor, a intenção é promover uma troca de linguagens e apresentar à cidade o que os grupos locais e de grandes centros, como Rio e São Paulo, têm pesquisado em termos de dança contemporânea. Ela afirma que esse movimento de pesquisa e prática está apenas começando em Juiz de Fora, e a expectativa é fazer este evento crescer a cada ano.

Ela defende a interação entre todas as formas de manifestação artística e considera que, atualmente, quem trabalha com arte deve saber utilizar os elementos tecnológicos disponíveis. E é sobre esse assunto que os convidados da mesa de debates deste sábado vão discutir, hoje às 21h30. Edson Leão falará sobre a perspectiva da música, Giovane Aguiar fará colocações sobre a dança, Marcos Marinho abordará aspectos do teatro e Franco Gróia responderá sobre questões relacionadas ao audiovisual. A mesa será mediada pelos filósofos Maria Helena Falcão e Thiago Adão Lara.

(Fonte: TM de 22 de setembro de 2007)

02 setembro 2007

Cinema em foco - À espera de um filme

Os juizforanos poderão assistir, ao mesmo tempo que o resto do país, o nacional "Cidade dos homens", que chega hoje às salas de todo o Brasil. No entanto, terão que esperar mais um pouco para conhecer a última produção do diretor Daniel Filho, “Primo Basílio”, que estreou em 24 de agosto e está previsto para aportar por aqui apenas na próxima semana. Mas atrasos e ausência de bons lançamentos não são novidade para os amantes da sétima arte da cidade. “Saneamento básico”, “O cheiro do ralo”, “Babel”, “Déja vu”, “A rainha” e “Dream girls - Em busca do sonho” chegaram por aqui 30 dias depois de estrearem nas principais salas do país. Longe de exageros, “Apocalypto” e “Borat” superaram um mês de atraso, só ficando à frente de “O último rei da Escócia” e “O bom pastor”, que estrearam em Juiz de Fora 90 dias depois, enquanto que os estrangeiros “Pecados íntimos” e “Cartas de Iwo Jima” e os brasileiros “Cão sem dono” e “500 almas” nem deram o ar da graça por aqui. Exibidores e distribuidores não conseguem chegar a um acordo em relação aos motivos desse descompasso. A falta de cópias é o argumento dos donos de cinemas, contestado pelos distribuidores, que alegam desinteresse destes por filmes que não tenham bilheteria garantida.
As estudantes Raquel Ribeiro, 14, Luara Herédia, 15, e Nayelle Sales, 16, lamentam que o “Primo Basílio” esteja demorando tanto para entrar no circuito juizforano, acreditando “não haver, aqui, salas suficientes para atender o mercado nacional e internacional”. Em 2004, a jornalista Adriana Abrantes, 27, saiu de Juiz de Fora rumo a Belo Horizonte para ver o filme “Em carne viva”. “Era um filme que eu queria muito ver no cinema, com a magia que o DVD não tem”, lembra. Esse ano, mais uma frustração para Adriana, que esperou por “Maria Antonieta”, que estava, inclusive, entre os indicados ao Oscar, e nada.
Entre as distribuidoras e as salas de exibição
Segundo especialistas, o foco do problema está na ditadura econômica, na qual distribuidoras e salas de projeção se encontram submetidas. “Aqui no Brasil, 85% das salas são dominadas por filmes comerciais como ‘Homem-aranha’ e ‘Os Simpsons’, restando somente 15% para a produção nacional ou filmes de arte e documentários”, comenta o cineasta Marcos Pimentel, que acredita ainda que o problema se agrava na medida em que não sobra verba para publicidade da produção nacional, dificultando o lançamento em muitas praças. De acordo com o cineasta Rogério Terra, são produzidos cerca de 50 filmes de qualidade por ano no Brasil, “com quesitos que agradam o apelo popular”. Mas ainda assim predomina-se a hegemonia do “cinema pipoca”, ou seja, as grandes produções americanas. “Não é mais justificativa dizer que o Brasil não produz cinema de qualidade. Há, ainda, certo preconceito com relação a alguns filmes”, completa.
Cópias insuficientes ou falta de interesse
O consenso é em relação às distribuidoras, que “produzem um número insuficiente de cópias”, como afirma o professor de cinema Nilson Alvarenga. No entanto, ações como a “cota de tela”, da Agência Nacional do Cinema (Ancine), que estipula a exibição de cerca de 30 filmes nacionais, ao longo do ano, em todos os cinemas, não são suficientes para abraçar o enorme volume de produções brasileiras. “É muito pouco para esses filmes que contam com a divulgação boca-a-boca”, conclui Marcos Pimentel. O fundador do grupo de cinéfilos Luzes da Cidade, Paulo Campos, também deposita sua esperança em uma maior divulgação das produções nacionais e/ou alternativas, apontando que entre dez pessoas, sete não querem alugar lançamentos brasileiros por não conhecerem o produto.
Na mesma trilha, o diretor de programação do grupo Cinearte Palace (SP), Ademar Oliveira, revela que, para um filme chegar, ao mesmo tempo, nas principais cidades brasileiras, e isso inclui as de porte médio como Juiz de Fora, deveria ter 400 cópias. O gerente do Duocine Santa Cruz, Marcelo Magalhães, e a subgerente do Moviecom Alameda, Adriana Cecília de Paula, completam afirmando dependerem da disponibilidade da distribuidora, que “sempre opta por atender primeiro aos grandes centros, para depois alugar as cópias para o interior”. Questionada sobre o esperado e indicado ao Oscar “Cartas de Iwo Jima”, Adriana confessou que o longa foi oferecido a ela, mas a demora fez com que o longa perdesse a concorrência para obras mais modernas. “Na época, eu já tinha outros lançamentos mais interessantes e novos para ocupar as salas”, argumenta.
O gerente de programação da Rio Filmes, Airton Correia, garante que os cinemas juizforanos é que não se interessam por alguns filmes. “’Brasileirinho’ e ‘500 almas’ são exemplos de produtos que nós colocamos à disposição de Juiz de Fora e até agora nenhuma das salas se interessou. O número de cópias não é o problema se não temos espaço para entrar”, se defende. Segundo ele, na hora de escolher, o exibidor, sobretudo aquele com poucas salas, opta pelos blockbusters, produtos de maior rentabilidade. Para driblar o “jogo de mercado”, que empata a relação distribuidora e exibidora, o professor de produção audiovisual Franco Gróia contesta Airton Correia afirmando que a oferta é muito pequena. Além disso, Gróia aponta caminhos capazes de fomentar o contato entre os exibidores e o público. “O foco é a questão do gosto. O que os espectadores gostam? Qual é o perfil do público hoje?”. As perguntas, para ele, podem ser respondidas com uma criteriosa e permanente pesquisa, que, a médio prazo, vai determinar o que a população irá consumir.
Conforme dados da distribuidora Columbia Tristar (SP), foram feitas 58 cópias de “Saneamento básico” e 163 de “Primo Basílio”. Números muito pequenos se compararmos com as 402 cópias de “Os Simpsons”, as 450 de “Harry Potter” e as 600 de “Homem-aranha 3”. Muita discrepância? Não para os distribuidores, que, para mapear a disponibilização das películas, realizam uma estimativa sobre o potencial do produto, com a “finalidade única de não gerar prejuízos para a mesma”. É o que relata o programador da Columbia, Waldomiro de Barros, que ainda vai além. “Com base em nossa experiência é que ditamos quantas cópias serão feitas de cada filme e onde alugaremos primeiro, porque se você faz uma abertura grande para um produto médio, você perde dinheiro”, explica.
(Fonte: TM de 31 de agosto de 2007)

03 agosto 2007

PBH sanciona lei sobre braile em bancos


Os deficientes visuais de Belo Horizonte serão os primeiros no Estado a ter direito a teclas em braile nos caixas eletrônicos das agências bancárias da capital. A mudança é fruto da lei nº 9.421/07, do vereador Fred Costa (PHS), e vai beneficiar milhares de pessoas. A lei foi sancionada ontem pelo prefeito Fernando Pimentel (PT), mas os bancos ainda terão o prazo mínimo de 180 dias e máximo de 365 dias para se adequar.


A Prefeitura de Belo Horizonte informou, por meio de sua assessoria, que ainda não há previsão para regulamentar a lei, ou seja, colocá-la em prática. O motivo seria decidir qual será o órgão fiscalizador. Para o professor Evandro Saito Freimann, do Instituto São Rafael, o prazo para a regulamentação e adequação da lei é importante para não se correr o risco de ter uma lei fantasma. "Deficientes com dificuldade em lidar com tecnologia serão os mais beneficiados", comentou.


(Fonte: O Tempo: 03/08/2007)

12 julho 2007

Obra no Cine São Luiz é interrompida

Depois da tentativa de embargo das obras no Cine São Luiz na segunda, os fiscais da Secretaria de Política Urbana (SPU) voltaram ao local ontem, lacraram o prédio e entregaram a notificação de embargo e infração da obra a um contador local da Cia. Franco-Brasileira, proprietária do imóvel. “Paralisamos as obras, pois não havia licença para operar, e os responsáveis terão que se apresentar à junta de julgamentos fiscais para decidir sobre a penalidade”, disse o supervisor da Regional Centro da fiscalização da Prefeitura, Jurandir Alves Moreira.

De acordo com a fiscalização, qualquer tipo de imóvel que passar por mudanças em sua estrutura precisa de alvará de construção, sejam eles comerciais ou residenciais. No caso de demolição, como aconteceu no Cine São Luiz, existe ainda uma autorização especial, e nenhuma delas teria sido requisitada à Prefeitura. Os proprietários têm sete dias para apresentar suas justificativas.



A denúncia de que o imóvel estava sendo parcialmente demolido para ser transformado em estacionamento, feita ontem pela Tribuna, surpreendeu a cidade, causando indignação. Procurado, o advogado da Franco-Brasileira, Ricardo Nemer, alegou que as obras estavam sendo realizadas pela empresa locatária, do Rio de Janeiro. A fiscalização, no entanto, diz que a responsabilidade é de ambas as empresas envolvidas. “Neste caso, pode ser responsabilizado tanto um quanto o outro. Notificamos o proprietário, pois não foi possível identificar o realizador da obra. Tudo precisa ser avaliado, é preciso comprovar que o locatário é o responsável, e ele precisa assumir esta responsabilidade. Se assim for, lavramos outro documento e cancelamos o anterior. Se nenhuma justificativa for apresentada, o julgamento prossegue sem elas”, informou Jurandir Alves Moreira.



Abalo às estruturas do patrimônioO prédio, que engloba o antigo cinema e o Hotel Renascer, tem fachada e volumetria tombadas como patrimônio municipal. No entanto, não existe lei de tombamento que determine o uso de imóveis protegidos. Apesar disso, segundo informações da Divisão de Patrimônio Cultural da Funalfa (Dipac), seria necessário realizar um estudo sobre a capacidade de carga e possíveis modificações internas, como remoção de pilastras, para saber se a estrutura agüentaria o volume de carros estacionados. Em caso de possível comprometimento, a obra não poderia ser realizada.



O advogado da Franco-Brasileira declarou, porém, não ter conhecimento da necessidade desta autorização, já que a informação não consta no decreto de tombo. A interpretação da Dipac, porém, é outra. Segundo o órgão, o decreto é submetido à lei municipal que rege o tombamento, e nela consta que qualquer modificação em imóvel tombado precisa passar, primeiro, por um estudo para apontar eventuais riscos à integridade física do espaço.



Embora o uso de bens tombados, em princípio, não seja limitado, a questão da ambiência tem sido amplamente discutida. Para os especialistas da Dipac, o uso do patrimônio precisa ser um instrumento de preservação, por isso seria necessário questionar se o uso pretendido agregaria valor ao imóvel. A idéia de preservação patrimonial tem sido revista não só na cidade, mas no Brasil e no mundo. Novos conceitos têm incluído, também, o entorno dos bens. No Rio, por exemplo, foram criadas as Áreas de Proteção de Ambiente Cultural (Apacs), com o objetivo de restringir a utilização de determinados prédios de interesse urbanístico declarado.



De acordo com profissionais da Dipac, está em discussão a revisão de processos para determinar tombamento integral de alguns bens da cidade. O tombamento de fachada e volumetria predominou por um período, mas a proteção total pode assegurar o cuidado com detalhes, como uma porta, um telhado, etc. Em casos como o do Cine São Luiz, é possível alterar paredes laterais, interior e fundos, porém não é permitido construir anexos ou pavimentos extras.


- A Tribuna tentou localizar a empresa locatária do espaço, mas não conseguiu contato.




(fonte: TM: 11 de julho de 2007

Cine São Luiz - Só fachada

Juiz de Fora perde um cinema que fez história nos décadas de 1960 e 70 no momento em que os esforços estão voltados para revitalizar a Praça Doutor João Penido e transformá-la em um centro de entretenimento e cultura. O Cine São Luiz, que há mais de 50 anos é espaço para projeções na cidade, deverá ser transformado em estacionamento. De propriedade da Companhia Cinematográfica Franco-Brasileira, o prédio está em obras desde a última semana e teve os projetores retirados e parte das poltronas removidas e acumuladas no saguão de entrada durante o final de semana. Ontem as obras continuavam com dois pedreiros trabalhando em horário integral. Informada pela Tribuna sobre as intervenções, a Prefeitura, por meio de sua assessoria, garantiu que a empresa não está autorizada a executar o trabalho e promete embargar a obra hoje pela manhã.

Fiscais da Secretaria de Política Urbana (SPU) estiveram no prédio no final da tarde de ontem e notificaram os funcionários sobre a necessidade de licenciamento. O embargo não foi efetuado devido à ausência de um responsável. Ficais da SPU e equipe da Divisão de Patrimônio da Funalfa deverão verificar os trabalhos, para levantar possíveis danos e exigir reparação.



Não há mais público nem funcionários do extinto cinema. Pela sala, que foi uma das mais importantes nas décadas de 60 e 70, quando era palco para o lançamento das películas antes de chegarem nas outras salas de exibição, restam apenas entulhos, madeiras quebradas e muita poeira.



O espaço teria sido alugado para um grupo do Rio de Janeiro, que administra estacionamentos. Tombado como patrimônio do município em 1999, o cinema, juntamente com o Hotel Renascer - que funciona no piso superior -, compõe um prédio com características marcantes do estilo art déco, construído na primeira metade do século XX. Para a presidente do Programa de Estruturação e Revitalização da Memória Arquitetônica e Artística (Permear), Mônica Olender, trata-se de uma iniciativa condenável. “Hoje fala-se em revitalização daquele entorno, parte de um projeto ainda maior: a revitalização de todo o Centro de Juiz de Fora. A praça sempre foi porta de entrada do município, e o cinema faz parte disso tudo. É um absurdo que projetos como esse, que em nada contribuem para o resgate dessa efervescência cultural, continuem sendo pensados e realizados na cidade. A população precisa se mobilizar.”



Membro do Grupo de Cinéfilos e Produtores Culturais - Luzes da Cidade, Carlos Pernisa Júnior garante que não dá para evitar o estranhamento. “Vivi minha infância naquela praça. Retomar o São Luiz como espaço reconhecidamente de cinema é, de longe, a melhor alternativa. Ele integra o conjunto arquitetônico da Praça da Estação, além de estar próximo à Sociedade de Belas Artes e ao Museu Ferroviário, formando um bom circuito de cultura. Por mais que as obras não atinjam a fachada do edifício, ainda assim é questionável. Um estacionamento naquele lugar destoa do propósito de resgate histórico-cultural.”



Pelo decreto de tombamento do edifício (06445/99), foram considerados os valores histórico e cultural que envolvem o bem, além de sua integração ao conjunto arquitetônico da Praça da Estação. A estrutura predial é marcada por partes reentrantes e salientes, que dão ritmo à composição e permitem perfeita harmonia de proporções. Os balcões curvos ampliam a perspectiva e acentuam sua monumentalidade.



PJF prevê transformação em centro cultural. O projeto inicial para a revitalização da Praça da Estação, pensado pela Prefeitura em parceria com a Associação Comercial, consiste em transformá-la em uma praça de alimentação. Nesse cenário, o Cine São Luiz se tornaria um centro cultural e palco permanente para shows. Incomodado com o fim do cinema, o Secretário de Turismo, Indústria e Comércio, Ricardo Francisco, ressalta o fato de que, apesar de o imóvel ser particular, trata-se de prédio tombado. Nesses casos, os proprietários precisam solicitar licença junto à Divisão de Patrimônio da Funalfa, antes de qualquer intervenção. “Fiquei sabendo da obra no início da tarde e acionei a Secretaria de Políticas Urbanas (SPU) para que os fiscais fossem ao local. O interesse da administração municipal é de preservar a área.”



Ainda segundo Ricardo, o projeto de revitalização do Centro está na fase de desenvolvimento, com o diagnóstico dos imóveis. “Estamos realizando levantamento detalhado sobre o tamanho dos imóveis, potencialidade, e não leva em conta apenas a área externa. Precisamos de um escopo bem definido, até mesmo para conseguir parceiros de peso, como a Petrobras.”



Para o cineasta Franco Groia, as atuais obras no Cine São Luiz desperdiçam o potencial estratégico do prédio e refletem o poder especulativo dos proprietários. “Esse espaço poderia ser usado como um dos principais alicerces no projeto de revitalização do Centro. Otimizado, seria um belo começo para a retomada das atividades culturais naquela praça.”



- A Tribuna tentou contato com a Companhia Cinematográfica Franco-Brasileira, com sede no Rio, mas os responsáveis não foram localizados. A informação repassada por ex-funcionários da empresa é de que os locatários devem estar na cidade hoje para vistoriar as obras.




(fonte: TM de 10 de julho de 2007)