23 setembro 2005

Faculdades têm que investir em acessibilidade


Uma portaria do Ministério da Educação (MEC), publicada no último dia 11, determina que todas as universidades, públicas e particulares, ofereçam condições de acessibilidade tanto no espaço físico quanto na área de comunicação. A norma reforça determinações anteriores, criando regras específicas. A Tribuna ouviu oito instituições de ensino superior de Juiz de Fora e todas informaram que estão trabalhando no sentido de garantir atendimento adequado aos estudantes portadores de necessidades especiais.
No entanto, ainda há intervenções e investimentos a serem feitos para que os alunos de Juiz de Fora com dificuldades motoras, auditivas ou visuais tenham garantidos os direitos de ir e vir, aprender e formar-se profissionalmente. A maior pendência está na manutenção de equipamentos próprios para os portadores de deficiência, como teclado e impressora em braille.
Eliminando barreiras
O diretor da Faculdade de Direito do Instituto Vianna Júnior, Michel Bechara Júnior, afirma que a instituição já vem investindo em acessibilidade há alguns anos. Segundo ele, o prédio dispõe de uma rampa que dá acesso ao primeiro andar, mas o mesmo não acontece com o segundo pavimento. Bechara argumenta que essa intervenção não é necessária, no momento, porque o instituto concentra os alunos com necessidades especiais no piso térreo.
A mesma estratégia é usada na Faculdade Machado Sobrinho. O diretor José Darcy Leal informa que, atualmente, não há estudante com necessidades especiais. No entanto, quando um dos alunos se machuca ou vive qualquer situação que imponha dificuldades temporárias de mobilidade, sua turma é transferida para o pavimento térreo. Destacando as diversas adaptações já implementadas, Bechara e Leal afirmam que novas intervenções serão promovidas para atender a demanda existente.
A unidade Alto dos Passos da Unipac dispõe de rampas de acesso, mas elas também se limitam ao primeiro piso. A diretora pedagógica da unidade, Diva Batista de Moura e Silva, afirma que, até o início do próximo período letivo, será instalado um elevador de acesso aos demais pavimentos.
No Instituto Granbery, o elevador já está em funcionamento. O reitor Roberto Pontes da Fonseca informa que os investimentos em acessibilidade feitos no prédio da graducação se estendem, agora, à construção principal, que já completou cem anos. A instituição também dispõe de equipamentos especiais e implantou o sistema de apoio ao aprendizado, que consiste na disponibilização de todos os conteúdos acadêmicos no site da faculdade.
Outro prédio que dispõe de elevador para atender pessoas com dificuldade de locomoção é o do Centro de Ensino Superior (CES). O diretor José Ventura informa que o próximo passo para promover a inclusão dos alunos com necessidades especiais é investir em equipamentos específicos para esta clientela.
Recém construído, o prédio da Universidade Estácio de Sá contemplou, já no projeto original, as normas de acessibilidade. A assessoria da instituição informa que existem rampas, corrimãos e estacionamento privativo. O mesmo acontece com o prédio da Universo, que está em fase final de construção. A direção informa que há elevador, rampas e banheiros adaptados.
Falta de recurso é obstáculo na UFJF
A situação é mais complicada na UFJF. Com um número maior de estudantes, quase 12 mil, e construída no final da década de 60, quando o conceito de acessibilidade era pouco ou nada difundido, a instituição já fez algumas intervenções, mas ainda não oferece as condições adequadas.No entanto, o processo está estagnado. O diretor de Logística, Marcos Tanure, aponta como o principal investimento, na fase mais recente, a instalação de um elevador privativo para portadores de necessidades especiais no prédio da Biblioteca Universitária, localizado na região central do campus. Como complemento, foram construídas rampas nos caminhos de acesso ao prédio.
Tanure comenta que há projetos para a construção de um pavilhão de aulas, totalmente adaptado, também na área central, e informa que as construções mais recentes contemplam as regras de acessibilidade. O problema, segundo ele, são as estruturas mais antigas. "Em alguns prédios não há espaço físico para a instalação de rampas." Tanure argumenta ainda que a falta de recurso é outro obstáculo grave.
Prioridades Além das dificuldades arquitetônicas e financeiras, a UFJF esbarra em outro empecilho: a desinformação. Marcos Tanure reconhece que a instituição não tem um levantamento recente que aponte o número de acadêmicos portadores de necessidades especiais, nem quais os tipos de deficiência e qual o grau de comprometimento de cada um. "Precisamos deste diagnóstico para, a partir dele, elencarmos prioridades nos investimentos."
O diretor de Logística explica que a idéia é usar os recursos disponíveis para intervenções que atendam às necessidades dos estudantes contemporâneos. Desse modo, aos poucos, a UFJF estaria se preparando para oferecer total acessibilidade.
Apoio de colegas foi essencial para cineasta
Para o jornalista e cineasta Franco Groia, o vestibular foi o passaporte para o ensino superior, mas não representou a garantia de livre acesso a todos os benefícios e serviços oferecidos pela UFJF. Formado na Faculdade de Comunicação Social, em 1998, ele comemora o fato de ter estudado em um prédio anexo ao da Faculdade de Educação, que dispunha de rampa e outras adaptações, que permitiram sua locomoção na cadeira de rodas.
Já as refeições no Restaurante Universitário (RU), serviço utilizado por Groia durante os quatro anos da graduação, foram uma verdadeira odisséia. Ele conta que colegas e funcionários da universidade eram mobilizados todos os dias. "Eu tinha que entrar pela cozinha. Acabei ficando amigo dos cozinheiros e serventes, que sempre me trataram com muita atenção." Franco acredita que a adaptação realizada no RU foi, em parte, provocada por ele. "Minhas necessidades fizeram as pessoas perceberam a necessidade de mudanças."
Utilizar a Biblioteca Central foi um dos maiores desafios de Groia. Na época, o acesso só acontecia através das escadas (o elevador foi instalado em outubro deste ano). A alternativa encontrada foi mais uma vez recorrer a terceiros. "Eu pedia ajuda de conhecidos e de desconhecidos também. Apesar da boa vontade das pessoas, o processo era demorado e com o corre-corre da vida acadêmica, ficava muito estressante." O cineasta conta que acabou desistindo de usar a biblioteca depois da terceira visita.
Perseverança, bom humor e solidariedade foram as armas de Franco Groia para derrubar barreiras. Mesmo protagonizando situações de constrangimento e dificuldades, ele nunca pensou em desistir. Hoje, ele defende a disseminação da cultura da acessibilidade. "Os engenheiros e arquitetos devem projetar os espaços pensando no usuário universal, que pode ou não ter limitações físicas".

(Jornal “Tribuna de Minas”, de 27 de novembro de 2003)

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